terça-feira, fevereiro 21, 2006
O Gato
Estirado sobre a varanda o gato dormia. Era um daqueles bichanos de goteira, imensos de pêlo e gulodice. Quem passava ria-se daquela pose instável, desafiando as leis mais elementares da gravidade. O corrimão que conduzia à varanda era apenas uma linha ténue e fina, onde se tinha empoleirado.
De repente um raio de sol inundou em cheio a figura modorrenta do monarca ribeirinho.
As linhas suaves que lhe tracei no corpo com o olhar tinham-no finalmente despertado para as sua sensualidade selvagem. Parecia rever a última incursão pelos telhados onde se espraiavam as gatas da noite. Esticou uma pata cuidadosamente; depois a outra; deixou-se percorrer por um arrepio de prazer que lhe eriçou a pelagem farta. Abriu um olho, catrapiscou o outro, acabou com o sol de Outono a brincar-lhe nos dois, irradiando tonalidades amarelas e laranja.
Mirou gaiatamente uma gaivota dolente no céu azul.
E lá se decidiu finalmente a vir ter comigo.
Voltara eu às escadas do Codeçal. Desta vez Bia de novo procurando os gatos, os gaiatos e talvez os outros felinos de antigamente. Estaria preparada? Seria a mesma?
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