quinta-feira, novembro 20, 2008


A minha língua serpente
Em pele dócil de seio erguido
No mamilo redondo em rosa
Ávida dos beijos da tua boca ardente
Deseja entrar em ti borboleta

-Aromas libertos de cheirar
- Sabores intensos de beber

sexta-feira, novembro 07, 2008


No início dos teus olhos

havia um rumo directo à boca
Uma vontade de ver para além do beijo
Um assomo de ser para além da carne


No início do teu corpo

havia um traço directo ao cerne
Uma fome de tocar para além da pele
Um pasmo de ler para além do desejo

segunda-feira, outubro 06, 2008

OUTONO


Outonal
solta-se o desejo de ti
em laranja, amarelo, castanho
Rumorejam águas,
na relva que rescende ao musgo com que te entrego a boca



Numa lua vermelha de tempo sonolento
Folhas são dedos, gotas de suor
Os meus cabelos de sol embriagando o teu corpo
O beijo que sobe nas tuas coxas maresia


Os meus olhos expandem-se na metáfora verde do nosso segredo

sexta-feira, setembro 05, 2008

à sempre muy nobre e invicta...


À custa de ser una perdi-me
Nesta cidade que em bairros me divide
Particularizei-me nas calçadas, ribeiras e cumes
Tirei fotografias às palavras no grito das gaivotas
Chamei nomes aos mamarrachos dos cais
Fui turista do granito dos sonhos fósseis
E criadora de ilusões efémeras
Amei aqueles a quem a vida passou ao lado
Arrumadores, mendigos, putas, crianças de alma prematuramente desnudada
Cantei o fado e os blues da alma lusitana
Pendurei-me no eléctrico da Foz e fui ver palmeiras
Mas já não se namora: só se pesca.
E passeiam-se as tainhas brasileiras de braço dado.

segunda-feira, junho 23, 2008

Tatuagem


Nestes lençóis
Onde puros fomos voz e silêncio
Fica o meu ventre de linho
Útero aberto
Na madrugada sem dobras
Em que o tempo escorre e não cristaliza

Veludos, nácares e cetins
Tinta roxa
Pele a pele
Corpo a corpo

Alga




Olho em frente e reconheço-me
O espelho és tu
Que me devolve o olhar
Verde de tão verde alga
A alagar
Sem naufragar

Toilette


Peça a peça escolho
O teu desejo de mim
Um busto vermelho
Rendas negras de pecado
Na meia que seduz
Na contraluz de um beijo
Escarlate

Sobre a mesa


Manjares divinos
Doces de ovos, chantilly
Morangos em cascatas de champanhe
Melões abertos em ventre
Damascos amarelo-mel
Uvas vibrantes – fome de serem cacho
E não bago
Unidade sem sentido
No amor que faço
Contigo

terça-feira, abril 29, 2008

A preto e branco

A realidade estava nua como a mulher que a sonhava.

Sem alma para vestir,
Vontade de pincelar-se
de azul-céu,
laranja-fogo
ou verde-mar.

Nada.

Reentrou no sonho
Do saber-se nua, dormindo
Na realidade crua de estar sem maquilhagem.

sábado, março 29, 2008

A pedra


Ignoro se esta pedra existe
Limpa nas casas
Promíscua nos passeios
na essência de ser dura, imortal e sólida
fóssil de sabedoria
desafio aos deuses na sua humanidade granítica de silêncios gravados
de palavras não ditas, ancestrais

- desejo branco gravado no tempo.

sábado, março 15, 2008

Amor revisitado


Com carne e músculo
Tendões e nervos
Fiz instintivo o amor
Que por demais conhecido
Me apeteceu fazer

Com lágrimas e risos
Sussurros e devaneios
Fiz instintivo o amor
Que por demais sentido
Me apeteceu fazer

Com musgos e cetins
Veludos e pedras caras
Emoldurei espontâneo o amor
Que por demais sonhado
Me apeteceu fazer

terça-feira, março 11, 2008

Escrita q. b.


Cruel e obsceno o espaço da escrita
Na vertigem da folha gume
Reclama palavras novas
Metáforas inovadoras
Amores inventados de propósito
Na sinceridade falsa do cliente certo
Aquele que sempre nos lê
E que aplaude o esperado
poema-feito-de-encomenda

O fazedor de poemas meteu a viola no saco

terça-feira, janeiro 01, 2008

Ribeira do Porto II




Os olhos deslumbrados de um gaiato
Que mergulha ponte abaixo fundo no rio
Faz voarem no meu nome as gaivotas

-recados brancos como lágrimas
Vertidas nas pedras gastas do burgo


No cais-chegada-partida de todos os rios
A voz escorre pelos granitos
Fado e Zappa e o cheiro das castanhas
No pêlo dos gatos das goteiras.

Primeiro poema de 2008


O meu pensamento à beira Douro transborda cardumes
Na Praça do Cubo entranço as pernas e deixo nascer o desejo
De ser não eu, de alma enroscada no rio,
Mas outra poetisa ruiva e louca
Desgrenhando versos no azul fluido das margens
Comendo azeitonas verdes com a cor do olhar
Que dirige aos homens que passam
Vagabundos como ela de países e almas
Desancorados de promessas ou amores contingentes