terça-feira, fevereiro 21, 2006

Majestic Café


O Majestic mantinha o mesmo charme de sempre, os mesmos odores. Era como se recuássemos até aos vestidos de lantejoulas e aos colares a bater nas virilhas das meninas franjadas de kohl. Pude senti-lo por dentro, tomar o meu café, ver as gentes que passavam na rua, os vendedores e os turistas.
Era o Porto da "Belle Époque", dos escritores e dos artistas, em todo o seu esplendor e luxo. Chamara-se Elite nos seus primeiros tempos, na época do “chic”, numa altura em que o tempo passava devagar e se podia fazer “vida de café”.
Estava de casaco e calça de veludo castanho, de que alguns anos depois me despedi com saudade, porque era a minha segunda pele e porque o forro transbordava corpos e recordações. Ainda hoje lhe farejo os cheiros e os contornos coleantes.
Estava em simbiose com o ambiente.
O chão de mármore indiano. Madeiras torneadas, sensuais, volteando languidamente por entre o latão. Tectos de gesso pintado de dourado trabalhados com perícia. De ambos os lados candeeiros Arte Nova em cogumelo com figurinhas de querubins de bronze em divertimentos pequeninos e incestuosos. No meio, como que para repor a seriedade, uma fileira de lustres. Os bancos corridos em cabedal gravado encimados por grandes espelhos de cristal de Antuérpia prolongavam o espaço e a imaginação. O vidro permitia ver Santa Catarina e o esplêndido jogo de losangos e quadrados cortados pela lascívia das madeiras exóticas. Mesas de tampo marmóreo e cadeiras com incrustações.
O piano de cauda espraiava-se sinuosamente pelo fundo da sala.

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