domingo, abril 22, 2007

Apeadeiro


Inadvertidamente, sem pedir licença

Num dia de lúcido de projectos
Alguém separou as carruagens
Do meu comboio:
Numa ficou a minha bagagem;
na outra o meu eu conhecido.
(Não aquele que os outros pensam
que percebem
mas o que preenche o meu leito sem sono
descanso ou companhia).

Optei por agir correndo
buscar a bagagem
ao menos é concreta, palpável
e contém coisas úteis para a viagem.
Sonho a presença de alguém
com uma persistência ignóbil
como se o ser se definisse
em função de outrem

No desalento emaranhado
das minhas emoções
perdi-me em tons de crepúsculos
onde sofro a dor
como um soluço a reprimir
na verdade que consegui alcançar

Posso despir-me
Para ti
Se quiseres
Posso dizer amor
Se me apetecer
Posso explicar-me
Se conseguir
Posso até ser
A tua mulher
Se souber

Não me desnudo
Existo
Não falo
Calo
Não me analiso
Vivo
Não há posse
De mim
Apenas presença

domingo, abril 01, 2007

http://silencio.weblog.com.pt/images/eyes/VincentVanGogh-TheStarryNight(1889).GIF



REALIZAÇÃO



Na alvorada em que me preencho


Surgem os ecos dos sonhos que não desejei.
De dia, o meu acto de ser agrilhoa-se numa nulidade absurda


Como se, impessoal e muda,


Não quisesse acontecer.
À noite concretizo-me


Prenhe no meu estado de glória


Sendo tudo e nada sendo


Coroada da majestade do sem céu


Meu reino sem ninguém


Desdém de crepúsculos

Ave


Amo nas tardes mornas de Verão

O doce rumor das asas acoitadas

Na frescura dos ramos


Amo e contemplo

Sentindo que o morno refresca em mim

O doce marulho dos abraços