segunda-feira, fevereiro 20, 2006


No jardim da Cordoaria havia sempre homens sedentos do amor sobre os bancos, à sombra escura das árvores ancestrais e dos crepúsculos do Porto com aromas de limo e de vinhos finos e a figura espectral da árvore da forca. Cheirava também a castanhas no Outono, vendidas em sacos de papel de jornal que as mantinha quentes e boas, quentinhas, e com um ligeiro sabor a petróleo.
Bia repousava deitada sobre o seu corpo de estrangeiro isento, exausta de percorrer igrejas e vielas humanas num amor desvairado.
Fiéis às revelações que lhes fazia, ela preferia-os assim, livres, ocasionais.
A mim custava-me. Compreendia-a, contudo, atendendo às suas origens.
Quem a poderia compreender naquele tempo, quando bastava a sua presença para nos esbofetear as convicções mais profundas?
A dança é a expressão do desejo - dizia ela - não há como amá-la num corpo nascido sob o seu signo: constelação de sabores com música.
Sabia dançar como ninguém o raio da moça.

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