quinta-feira, março 02, 2006

Foz do Douro


Vezes sem conta me deixara penetrar de sal, areia e sol, lentas as horas nos desenhos dos corpos que se desnudavam em manhãs interditas coroadas de sonhos, de pregas livres e contornos desdobrados, na verdade do silêncio, em noites de maré cheia, passeando a saudade por entre as ondas, de pés descalços.
Ser eterna é uma realidade feita de pequenos seixos atirados às ondas.
O céu estava nu sem uma nuvem que chorasse.

Estacionei o carro junto ao Castelo do Queijo e caminhei pelo passeio ladeado de árvores antigas até ao Homem do leme. Muita gente aproveitava a extensão do percurso para andar em passo rápido, correr, andar de bicicleta ou de patins. Senhoras louras passeavam os caniches. Havia pipocas e gelados, mas não havia muitos banhistas. O tempo estava incerto, com o vento a soprar por vezes forte, uns pingueiros de chuva logo afastados por um sol de Junho a raiar de novo.
Ainda hesitei em prosseguir até ao pontão. Gostava de sentir o barulho das ondas contra o molhe, fortes e salgadas, fazendo-me arder os olhos e a pele. Depois fui, com cuidado, que os limos tornavam o caminho traiçoeiro. Lá em cima, batida pelas ondas e pelo vento era como se estivesse em plena tempestade. Pensamentos bravios, lágrimas à mistura...

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