domingo, março 05, 2006

Vinte Poemas de amor e uma Canção Desesperada , de Pablo Neruda


Ofereceste-me o livro de Pablo Neruda, ainda namorávamos, numa altura em que vacilaste também e eu não quis decifrar, então, os sinais que me permitiriam antever que o futuro teria muito mais a ver com uma canção desesperada do que com vinte poemas de amor.
Li-o na estação à espera do comboio, para mim símbolo do amor que tivemos, umas vezes dorido, porque te esperei e não vieste; outras ávido de te ter nos meus braços, quando aparecias.
A luz era fraca, mas o poeta incendiou-me e sofremos juntos, porque irmanados na certeza definitiva da efemeridade dos momentos intensos vividos corpo a corpo, alma a alma, aceitando o desafio mítico de continuar a espécie no meio das flores e dos fenos - lugar privilegiado dos amantes.
Como a tua voz, poeta, é profunda e rica e orgulhosa, como a boca de todos os poetas que sentem a vida como um punhal de fogo e lágrimas!
Não é possível pensar em rostos, nem em corpos, nem em almas individuais.
Nada existe de supérfluo na nossa dor, apenas a verdade.

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